sexta-feira, 12 de setembro de 2008

PÓ BRANCO

Olhando para o plano branco vazio
Enrolado em linhas negras traçadas
Me equilibrando no meio fio
De cada entrelinha usada

As mensagens lidas em voz alta
Tantas vozes na minha cabeça
Exprimindo raiva e revolta
Esperando que aconteça

Uma verdadeira desgraça
Esperando que eu desapareça
Mas estou perdendo o fio da meada
Simplesmente não consigo ler nada

Minha vista está cansada
Meus remédios na despensa
Minha vida escancarada
Minha família rica e tensa

Esparadrapos para esconder feridas negras
Um embrulho no estômago, dor no peito
O que há comigo, o que quer que eu tenha feito
Os meus inimigos não jogam pelas regras

Assim como eu, e o branco escurece a vista...
Nenhum horizonte mais se avista
Vendi minha alma à vista
O branco me escureceu a vista

O branco me escureceu, o escuro na lista
De palavras, de mortes, aos montes, listas
Que perdi, que calma, alistam-se
As vidas de quem morreu, listas

De cartas, de famílias de soldados
Fartas mesas para muitos convidados
Todos os mendigos estão separados
Por um muro na moral da sociedade

Como era e como sempre foi esperado
Ninguém como eu manteve a integridade
Ninguém como nós manteve a sanidade
Quantas cartas ainda faltam serem entregues?

E quem é que segue as regras nos dias de hoje?
Quem ainda pensa que é correto continuar
Tudo do jeito que está, como apenas andar
Numa calçada de concreto e suor, que foge

Do que é concreto, aqueles que a fizeram
Não são os mesmos que a utilizaram
Aqueles que a quiseram, não são os mesmos
Que nela andaram, nem os que nela dormem

Nem os que nela dormem...

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